Morro Grande, SC: Cânion Realengo
- Afonso Lenzi
- 17 de jul. de 2017
- 4 min de leitura
Nos dias 8 e 9 de julho, os membros do Grupo Cachorro do Mato desbravaram o platô do Cânion Realengo, localizado na comunidade de Três Barras, na cidade de Morro Grande, SC.
Há uns 2 meses atrás eu e o Gilberto Fabris conversávamos sobre sua cidade Natal: Meleiro, SC. E, ele falou: - "Poxa bem que a gente poderia ir subir no ponto mais alto da minha região: o Cânion Realengo". Após essa conversa, começamos a planejar a aventura. Lemos relatos, buscamos tracklogs, analisamos imagens do Google Earth para conectar as trilhas, encontrar pontos de água, camping, estacionamento, entre outros. Resolvemos fazer a viagem de forma autoguiada, entre amigos do grupo. Seria um reconhecimento do terreno, pois ninguém do grupo havia estado lá, ainda. Normalmente os eventos são organizados por alguém que já esteve na trilha.
Depois de algum tempo planejando o trekking, descobri um morador local e guia, Marcelo Crepaldi, com quem obtivemos algumas dicas valiosas para consolidar a viagem e as decisões feitas.
O Cânion Realengo e seu platô fazem divisa natural com o Estado do Rio Grande do Sul. Ao traçarmos uma linha imaginária no início da trilha, estamos ao norte, indo para o sul, seguindo o leito de um rio. Já no lado esquerdo estará o Realengo e seu platô pertencentes ao Estado de Santa Catarina e, ao lado direito o Amola Faca, Pontão, Igrejinha e o pico Monte Negro (ponto mais alto do RS), com 1.380m, que é visível durante a caminhada.
Nestas junções de cânions, montanhas, rios e belas arestas formadas pelo relevo que se ergue abruptamente, o cenário é estarrecedor. As escarpas saem dos 100m de altitude e vão próximas dos 1.300m. Uma bela formação que nunca havia lido nem ouvido relato é a Igrejinha, que é um grande monolito quadrado, totalmente limpo e sem vegetação ao redor que se assemelha a uma igreja.
Não só a beleza do local tira o fôlego do caminhante, são cerca de 14km entre o ponto em que deixamos o carro e a área onde escolhemos para acampar, já nos campos de altitude. E, além de extensa, a caminhada tem bastante altimetria, chegando aproximadamente aos 1.200m, acumulada.
A caminhada com cargueira é para pessoas com experiência em atividades outdoor, não apenas com explosão e rapidez, mas com resistência, fator determinante para subidas extensas.
Caminhar longas horas com uma mochila pesando entre os 12kg até os 20kg é muito diferente de apenas caminhar ou correr. Leve em consideração esta dica, caso não tenha muita experiência com trekking.
É possível estacionar os automóveis se orientando pelas placas na comunidade de Três Barras.
Após estacionar o carro, logo no início, passamos por uma ponte pênsil, muito bem feita. Então seguimos para a esquerda, por uma estrada que passa por um lindo trecho com pinus até uma bifurcação, onde seguimos à esquerda. É de fácil localização, pois é o trecho mais utilizado. Deste ponto, cruzamos o rio e seguimos uma trilha evidente. Você cruzará o rio 20 vezes. Atenção nestes trechos para não sofrer quedas, devido às pedras lisas.
Há uma bifurcação mais a frente onde se pode ir para a Queda do Risco (aconselho ir na volta), para as Furnas à direita (caminhada rápida e super recomendável) ou seguir reto para a serra.
Nós passamos pelas Furnas de Três Barras, cujo relato de um morador local, se tratam de paleotocas, feitas por criaturas pré-históricas há cerca de 8 a 10 milhões de anos atrás!
O local está minimante cuidado, merecia mais atenção por parte do Governo Federal ou Estadual, para atrair turistas, ou até mesmo estudiosos.
Para fazer a caminhada por lá recomendo ir apenas com uma mochila de ataque. Foi uma grande viagem no tempo, ficar pensando em como deveria ser morar lá. Ao que consta, os índios apenas acharam as tocas vazias e passaram a habitá-las.
De lá rumamos cruzando o rio até um rancho. Para fazer este trajeto do estacionamento até o rancho é possível contratar o dono do próprio rancho para levar de trator, mas como era nossa primeira incursão à região, queríamos andar por tudo! Neste ponto há água e sanitários. Deixe o local como está. Há até um espelho com pente para os caminhantes vaidosos de plantão. Paramos um pouco para um lanche rápido e hidratação. Logo estávamos caminhando novamente e o próximo ponto de parada foi a Gruta, que é uma espécie de altar e um bom ponto de água.
Depois da Gruta, que está aos 650m de altitude e à aproximadamente 9km de caminhada, a trilha passa a ficar mais inclinada. Você vai subir 600m de altitude nos próximos 2km. É um trecho cansativo. Ao chegar em uma bifurcação é possível ir ao Amola Facas, à direita, ou para o Realengo, à esquerda. Seguimos para o Realengo.
A partir do platô, tivemos um êxtase ao vermos o enorme vale que deixamos para trás, ao constatar a altura das escarpas e cânions, neste ponto tivemos um visual 360º, digno de cinema.
A noite foi de lua cheia e não precisamos usar lanterna por muito tempo. A janta foi maravilhosa e, pelo menos em nosso grupo, um belisca um pouco da janta do outro e assim tivemos de tudo: lentilha, risoto, polenta e nhoque... foi um verdadeiro banquete! Há quem diga que andamos bem para poder comer bem (hahahaha)!
O nascer do sol foi lindo! A lua ainda estava se pondo e, rendeu belas fotos! Eu não sabia se olhava pra leste ou para oeste! Este caminho deve ser feito pelos que amam camping, caminhada puxada e visual de cânions.
No retorno passamos pela pedra Cabeça de Urso e pela Garganta do Diabo, dois pontos que merecem visitação.
A Garganta do diabo é uma fenda de 40m de altura e 3,5m de largura. Na realidade, não se vê o fundo. Deve-se ter muito cuidado ao visitar essas extremidades!
O local e as condições climáticas, estavam tão perfeitos que considero esta aventura, uma daquelas que já se parte do local com saudades e, planejando quando voltaremos.
Participantes da trip
- Adriana Priscilla Woitexem;
- Afonso Orgino Lenzi;
- Aline Cristina da Silva;
- Gilberto Fabris;
- Idce Sejas;
- Jean Jefferson Camargo de Oliveira e;
- Ricardo Santana.
Agradecimentos e apoio
- Irmãos Crepaldi (conhecedores e guias da região);
- Família Fabris – Meleiro (Melhor polenta com frango do planeta) e;
- Família Silva - Camboriú (Melhor sopa de abóbora do planeta).
NOTA: Recomenda-se fazer a trilha com guia da região a não ser que o caminhante tenha bastante experiência em navegação e orientação em montanha. Há relatos de pessoas perdidas e ocorrência de resgates nas trilhas da região.
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